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ESPECIAL ESTAÇÃO SÉ

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Histórias do subterrâneo:

A ESTAÇÃO SÉ DO METRÔ DE SÃO PAULO

Textos e fotos produzidos coletivamente pela terceira turma do Repórter60+

No subterrâneo do marco zero da maior cidade do país encontra-se a mais central e movimentada de todas as estações de metrô de São Paulo: a Sé. Por ela passam, diariamente, algo em torno de 542 mil pessoas. O número é grandioso. Apenas 46 dos 5.570 municípios brasileiros possuem população acima de 500 mil habitantes.

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Nessa “cidade” no subsolo, com 39.925 metros quadrados de área construída e capacidade para atender 100 mil passageiros simultaneamente, um dos maiores desafios é garantir a segurança dos usuários, segundo Joaquim Evaristo Paulino Filho, de 53 anos, supervisor de segurança do metrô e funcionário da instituição há 32 anos. 

As principais ocorrências registradas são agressões, furtos, vandalismo, alcoolismo, lesões corporais e danos ao patrimônio. Uma equipe de 150 agentes de segurança está alocada diariamente na Estação Sé. “Eles circulam no metrô e tentam resolver as questões de maneira 
pacífica, já que sua função é manter a ordem sem a utilização de armas”, afirma Paulino Filho. Nos casos mais extremos, a polícia é acionada.

A delegacia responsável pelas ocorrências registradas no metrô fica na Estação Barra Funda. Existe uma parceria do metrô com a Polícia Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros para situações como a Virada Cultural ou um jogo de futebol que demandam um esforço coordenado. Todas as ocorrências do metrô são estratificadas para um mapeamento das ações e desenvolvimento de estratégias. “Esse trabalho estatístico é fundamental e feito diariamente”, disse. Existe uma reciclagem anual para a atualização de melhores práticas. Com tudo isso, Paulino Filho garante que a Estação Sé é muito segura, graças ao foco no cliente. “Prestamos um trabalho de excelência”, orgulha-se.

Segundo o supervisor, o trabalho na segurança do metrô envolve desde o fornecimento de informações até o atendimento em casos de acidente ou mal súbito de passageiros. Todos os agentes de segurança têm formação de socorristas, e o metrô de São Paulo é o único do mundo que conta com desfibriladores em todas as estações. Graças a convênios, as ocorrências mais graves são direcionadas a hospitais do entorno depois de um primeiro atendimento pela equipe de socorristas. “Já houve até o caso de uma gestante que deu à luz o filho dentro do metrô”, diz. Essa estrutura leva Paulino Filho a uma recomendação curiosa.

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“Se você sentir que vai passar mal, passe dentro do metrô, pois o atendimento é muito rápido”, diz.

Por Antonio Clemente, Aparecida Tammaro, Maria Alice Danesacz, Marileise da Cruz e Rosemary Cezar Sodré

Cidade do metrô

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Para Marcelo Carvalho, de 52 anos, a integração de todas as áreas é o grande segredo para o bom funcionamento do metrô. Ele atua há um ano e meio como supervisor operacional da Estação Sé, mas sua história como profissional do metrô já tem mais de três décadas.

Segundo ele, seu trabalho envolve a coordenação das diferentes áreas da estação, como segurança, manutenção e operacional. “Meu olhar é o de gestor, integrando as diversas áreas para que o metrô cumpra sua função maior, que é transportar os usuários com segurança”, relata Carvalho. 

Suas atividades diárias como “prefeito” da maior estação de São Paulo envolvem tarefas macro, como supervisão, integração e atualização da equipe, e micro, como checar o funcionamento da catraca ou substituir algum funcionário que precisou se ausentar. 

Carvalho está sempre atento às sugestões vindas de sua equipe e dos próprios usuários no que diz respeito a melhorias nos serviços e na infraestrutura. Ele faz questão de ressaltar que o canal de comunicação do metrô está sempre aberto e funciona em mão dupla. “Quando o usuário faz alguma observação e deixa o telefone, fazemos questão de retornar”, diz. Umas das ferramentas de comunicação é o Metrô Conecta, um número de WhatsApp disponível para usuários. Também é possível deixar sugestões no site do metrô, pela Ouvidoria, SMS e telefone.  

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O “prefeito” gosta de ressaltar a importância da atualização de sua equipe. A reciclagem dos funcionários é feita pelos próprios profissionais do metrô, que geralmente têm experiência em mais de uma área. O metrô possibilita um rodízio das funções como forma de aperfeiçoar e identificar questões que muitas vezes passam despercebidas por profissionais atuantes há muito tempo na mesma área. Um dos destaques em termos de atualização é o CoMET, evento que reúne profissionais de metrô do mundo todo para intercâmbio de informações e atualização de boas práticas. 

Para Carvalho, o metrô é muito mais do que trabalho – a história da companhia se mistura com sua própria. Ele destaca que esteve presente em datas importantes, como a inauguração de “todas as estações da Penha para a frente”. Durante a Copa do Mundo de 2014, foi um dos profissionais designados para atuar nessas mesmas estações. “Aqui me sinto em casa, junto de minha família. Um dos dias mais felizes da minha vida como ‘prefeito’ foi a inauguração da Estação Memória, que conta a história e ocasiões marcantes do metrô”, diz. 

O fato de passar os dias no subterrâneo não parece incomodá-lo. “Fico a par de tudo o que está acontecendo, como uma manifestação prevista para terminar nos arredores, por exemplo, inclusive para tomar as medidas necessárias”, conta. O que não dá para acompanhar é como está o tempo lá fora. “Só quando saio da estação para almoçar é que fico sabendo se está fazendo frio ou calor.”

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Por Abrão Jacó Goldfeder, Lucia Fialho Cronemberger e Sandra Lisieri 

Demora e expectativa

Atualmente, é impossível pensar o metrô de São Paulo funcionando sem a Estação Sé. Nem sempre foi assim, no entanto. Primeiro foi inaugurado, em 14 de setembro de 1974, o trecho entre as estações Jabaquara e Vila Mariana; logo depois, em 17 de fevereiro de 1975, seria a vez do pedaço que vai da Ana Rosa até a Liberdade, e em 26 de setembro do mesmo ano o segmento São Bento até Santana. Enquanto os paulistanos iam se habituando a usar esse novo meio de transporte, aquela estação que se tornaria o coração de todo o sistema permanecia em obras. “Entre as estações Liberdade e São Bento, reduzíamos a velocidade por segurança e anunciávamos ‘Aqui será a futura Estação Sé do metrô’. Só se viam os tapumes”, lembra Salvador D´Oria, de 65 anos, à época operador de trem. Foram três anos de anúncios até que, finalmente, em 17 de fevereiro de 1978, ocorreu uma grande festa de inauguração. 

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“Neste dia, fui um dos designados para ajudar na organização do fluxo da nova estação”, conta. A expectativa gerada por tanto tempo de espera mais sua constituição diferente, com boa iluminação natural e um grande vão que permite ver, do mezanino de distribuição, as duas plataformas sobrepostas, aguçaram a curiosidade dos passageiros. “As pessoas olhavam para baixo, para o alto, extasiadas com o que viam, e nós preocupados com o volume de pessoas, querendo que todos fossem embarcando logo”, recorda, demonstrando orgulho de ter vivido de perto o momento histórico. 

Orgulho, aliás, é o que D´Oria mais sente ao completar 46 anos na empresa. “Minha vida é o metrô. Em vários momentos deixei minha família de lado por ele, mas como fazer diferente?”, diz. O apego é tanto que, quando descobriu um câncer de fígado e teve de passar por um transplante e tratamento, o mais difícil para ele foi se afastar por um ano de suas atividades. Foi tão angustiante que chegou a ponto de pedir ao médico que antecipasse sua volta ao trabalho. 
E pensar que em 1976 o metrô entrou na vida de D´Oria de maneira literalmente arrasadora: a casa onde morava com os pais foi desapropriada para a construção da Estação Bresser. Queixas com relação ao valor da indenização e todo o desconforto de uma mudança poderiam ter deixado marcas negativas não fosse o fato de, no ano seguinte, por uma dessas coincidências da vida, D´Oria começar a trabalhar no metrô e construir sua carreira.

Atualmente, ocupa o cargo de supervisor de operação e percebe que, ao longo dos anos, aprendeu a ouvir os outros e a ensinar, tendo prazer em passar o conhecimento adquirido em sua trajetória nos diversos treinamentos que ministra. 

Apesar de toda essa paixão, D´Oria acha que, agora, “é preciso dar espaço para os mais novos”. No ano passado, entrou no Programa de Demissão Voluntária (PDV) e até novembro deste ano deve se desligar completamente. Não sabe bem quando, porque essa escolha é dos superiores. Já está se preparando para essa nova etapa em sua vida e pretende passar a produzir e comercializar macarrão e tiramisu (tipo de pavê italiano), atividade que exerce de maneira informal “desde sempre”, porque vem de uma família de italianos que se reúne periodicamente para cozinhar. Ao refletir sobre sua vida, passada no subterrâneo das estações, não tem nenhuma dúvida: “Se tivesse que voltar para trás, começaria tudo de novo”.

Por Ana Luna, Carlos Roberto Paes, Maria Aparecida Castilho e Nuria Torrents

Operador não é tatu

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Como operador de trem no metrô de São Paulo, Gerson Menezes, 53 anos, afirma que o melhor de sua função é “não ter rotina”. Formado em tecnologia mecânica, atua há 27 anos na companhia e não passa seus dias apenas conduzindo o trem pelos túneis escuros. Ele compara sua função à de um piloto de avião profissional.

Além da condução do trem, ele pode ser alocado para outras tarefas, como inspeção dos equipamentos ou manutenção preventiva, o que gera um trabalho burocrático: a produção dos relatórios das falhas observadas. No desempenho de sua atividade, diz que ser equilibrado e preparado para tomar decisões rápidas é fundamental, assim como para solucionar ocorrências de falhas no funcionamento do trem. Sua função principal é manter todo o sistema funcionando, e para isso recebeu vários treinamentos ao longo de sua carreira.

Uma de suas principais questões é lidar com o usuário, como pessoas andando nos trilhos. Inusitado foi o dia em que assistiu, da cabine, ao “show” de um skatista. “Um rapaz muito ágil pulou na frente do trem, realizou uma manobra radical com o skate e voltou para a plataforma num salto”, lembra. “Eu estava a 200 metros dele e calculei que não seria necessário parar o trem. Foi uma decisão de segundos”, conta. 

Por Marcelo Thalenberg, Marcos Cardoso Olmos, Marli Vasserman, Martha Kastrup e Vera Lúcia Parede

Trabalho relevante

O trajeto diário é curto – da catraca da Estação Sé à porta de um trem parado na plataforma ou vice-versa –, porém o trabalho de Gabrielle Souza, 18 anos, não pode ser medido, apenas, por esses metros. Na função de Jovem Cidadã, ela dedica seis horas do seu dia conduzindo passageiros com deficiência visual. Um trabalho por ela considerado gratificante, porém com percalços e desafios. 

Em conversa com uma amiga que trabalha na administração do metrô, Gabrielle soube de uma oportunidade no Programa Jovem Cidadão, que a motivou a se inscrever. Selecionada, ela passou por treinamento de duas semanas, integrando-se à experiente equipe da companhia. 

Estudante do ensino médio, Gabrielle trabalha no período diurno e gosta de sua rotina profissional – ela faz parte de um grupo de 12 Jovens Cidadãos, divididos por turnos, que chegam a conduzir cerca de 150 deficientes visuais

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diariamente, na Estação Sé. 

A jovem age de acordo com o procedimento padrão do metrô, que estabelece regras de atuação e conduta para atendimento aos deficientes visuais, desde a estação de origem até a de destino. Entre os desafios da função citados pela jovem está o de lidar com as pessoas e, principalmente, com o comportamento de alguns deficientes visuais. “Alguns falam umas ‘gracinhas’, oferecem dinheiro, perguntam se eu namoro. A gente não pode encostar neles; eles é que têm de pegar no nosso braço. Alguns pegam e apertam a gente, e aí tenho de falar com jeitinho que estão apertando”, conta. “Tem muitos que pegam aqui em cima (altura do seio), para passar a mão. Quando percebo um jeito estranho, já afasto meu braço e, se tiver algum segurança ou funcionário por perto, eu peço que outra pessoa leve.” Nesses casos, Gabrielle toma cuidado com a própria reação. “Eu fico meio assim de falar e eu sair como errada — o deficiente visual sabe que está agindo assim, mas os outros usuários, não.” A rotina da estação contribui para reduzir essas ocorrências. Gabrielle conta que os deficientes visuais com comportamentos inadequados são identificados e passam a ser atendidos por homens. “Há, ainda, situações de deficientes visuais que não gostam de ser ajudados. Em alguns casos sofremos até bengaladas. Na hora, a gente fica nervoso, mas depois acha engraçado. Eu entendo, eles querem se sentir independentes”, diz. 

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A função de Gabrielle não tem só contratempos; é também premiada com depoimentos e elogios dos usuários que a equipe Jovem Cidadão atende. A deficiente visual Marli Marinho, 57 anos, usuária diária da Estação Sé, reconhece o trabalho. “É uma boa ajuda ao deficiente, além de incentivar os jovens ao emprego”, diz. 

Gabrielle destaca como uma boa coisa que o seu trabalho lhe proporciona os gestos de solidariedade humana, que ela frequentemente observa: “O mundo está violento, mas ainda existem pessoas que ajudam e pensam no próximo. Muitas vezes, quando não conseguimos prestar o atendimento por algum motivo, usuários se prontificam a auxiliar os deficientes visuais e os encaminham até a catraca”, conta. 

Por Eliezer Azevedo, Fernando Lummertz, Marisa da Camara, Sandra Tardelli Canedo e Vilma Barbosa dos Santos 

Quem procura, acha!

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Desde um objeto simples até próteses, utensílios domésticos, dentaduras e demais objetos inusitados são perdidos diariamente nas estações do metrô de São Paulo. A seção Achados e Perdidos nasceu em 1975 para dar esperança aos mais de 4 milhões de usuários que circulam por dia no metrô e correm o risco de perder algum item. “A ideia é sempre devolver os pertences. Nossa cultura é de guarda”, afirma o supervisor do setor, Waldomiro Junior, 55 anos, 35 deles no metrô e há três meses na nova função. 

Francisco das Chagas Araújo Saraiva, de 21 anos, comprova a eficiência do serviço – e a honestidade da população que usa transporte público. O jovem perdeu sua mochila em um trem da CPTM e no mesmo dia conseguiu recuperá-la no serviço da central da Sé. 

Muitos cidadãos nem sequer sabem da existência desse setor, que conta com seis funcionários por turno, cuja função envolve descrever detalhadamente cada objeto encontrado, facilitando, assim, a identificação pelo usuário distraído.

Num sistema são inseridos dados como descrição dos objetos, dia, hora e estação em que foram encontrados, detalhes e peculiaridades, para que possam ser entregues para o real proprietário. Quando alguém procura o setor, são feitas várias perguntas para se ter a certeza de entregar o objeto a seu proprietário. 

Uma tecnologia utilizada no dia a dia dos funcionários é um aplicativo por meio do qual eles se comunicam com as outras estações – assim, conseguem agilizar o atendimento e informar rapidamente sobre a localização do objeto perdido, caso ele ainda não tenha sido encaminhado para a central.

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De remédios a carteira com dólares

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Nas estações e nos trens são encontrados muitos medicamentos de alto custo, inclusive aqueles obtidos apenas por liberação da Justiça. Seringas lacradas e remédios sem prazo de validade também fazem parte da lista de itens achados. Nesse caso, se o proprietário não aparecer do prazo de até 90 dias, esses produtos são encaminhados a um posto de saúde da região. Remédios vencidos ou abertos são incinerados pelos profissionais de saúde. 

Também faz parte da rotina da equipe encontrar carteiras com moedas de diferentes países. “Às vezes, precisamos pesquisar na internet para identificar o país de origem”, conta o supervisor. Tanto os reais como as demais moedas, caso não sejam recuperadas por seus proprietários, são depositados na conta do Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, destino também das roupas, sapatos e demais objetos não retirados. 

Artigos parecidos ou até mesmo idênticos tampouco são problema para a identificação. “O dono sempre conhece algum detalhe específico de seu objeto, mesmo que seja um comum guarda-chuva preto”, afirma Junior. 

Já os documentos perdidos recebem uma atenção diferenciada. Os funcionários buscam pelos cidadãos na internet, na tentativa de localizá-los. Caso a busca seja infrutífera, os documentos são encaminhados ao órgão emissor correspondente. 

A atual tendência de mobilidade por meio de bicicletas e patinetes pagos via aplicativo de celular ainda provoca certa confusão entre transeuntes das redondezas da Estação Sé. Não são poucos os casos de cidadãos que desconhecem o serviço e conduzem esses meios de transporte ao setor de Achados e Perdidos pensando terem sido esquecidos ou perdidos na rua. Nesses casos, o metrô entra em contato com as empresas responsáveis e os leva de volta ao local onde foram encontrados, para que sejam localizados via GPS pelos usuários do aplicativo. 

Alguns itens inusitados acumulados ao longo dos anos ficam expostos no setor – porém longe do olhar do público – e fazem parte de um pequeno acervo de museu para efeito histórico. Lá estão um celular de primeira geração, uma máquina de escrever Olivetti, uma prótese de pernas, um livro antigo sobre gladiadores e outros pequenos objetos curiosos. 

Um caso de sucesso relatado pela equipe do serviço foi um notebook encontrado em um ônibus e, graças à reputação positiva do Achados e Perdidos, levado até o metrô. Os funcionários investiram na busca do dono, pesquisando por seu nome, que estava na tela inicial do equipamento, nas redes sociais. Por meio de uma amiga conseguiram localizar o proprietário do aparelho, que se mostrou surpreso por ele estar no metrô, já que sabia que o havia perdido em um ônibus. 

Os casos de final feliz contagiam os funcionários da seção. “O momento em que o usuário reencontra seu objeto perdido costuma ser de muita alegria para todos os envolvidos no trabalho”, comenta Junior. 

Achados na Leitura

Em 23 de abril de 2019, Dia Mundial do Livro, o setor iniciou um novo projeto, denominado Achados na Leitura. Dos livros perdidos nos últimos meses e não retirados, a equipe reuniu 450 obras, depois de ter excluído aquelas de temas religiosos e políticos, e as encaminhou para uma estante na Estação Brigadeiro, como fase piloto do projeto. A perspectiva é que o Achados na Leitura seja ampliado para as demais estações. Qualquer pessoa pode retirar e doar livros. A intenção é incentivar a leitura oferecendo os livros aos usuários do metrô. A população mostrou seu interesse, já que após o primeiro dia de projeto restaram apenas dois livros do total. 

Achados e Perdidos em números

4 mil itens por mês são perdidos e encontrados no metrô.

Os itens mais perdidos são documentos e objetos pessoais pessoais.

Durante o mês de janeiro de 2019, entre os itens  mais inusitados, foram encaminhados ao setor: 1 chaleira elétrica, 1 cortina, uma lata de tinta, 1 liquidificador, 1 panela elétrica, 1 tostadeira, 2 skates e 150 bolsas. 

Cerca e 50 pessoas por dia buscam o setor na esperança de reencontrar algum objeto

SERVIÇO

:: O Achados e Perdidos está localizado em um ponto estratégico na Estação Sé, logo após a passagem dos bloqueios. O atendimento é de segunda a sexta, das 7h às 20h. 

:: Para buscar um documento pelo nome, consulte https:// aplic.metrosp.com.br/omc/. 

:: O canal por telefone 0800 encontra-se desativado momentaneamente.

:: Site do setor: http://www.metro.sp.gov.br/sua-viagem/ achados-perdidos.aspx.

Por Ebe Fabra, Maria Aparecida Ribeiro Costa, Maria do Carmo Cunha e Renate Land

Metrô: espaço público a serviço da Cultura

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Em São Paulo existe um museu de arte subterrâneo quase invisível. Recebe por dia 600 mil passantes, que nem sempre se dão conta das obras. É a Estação Sé, que aproveita seus espaços públicos para democratizar a arte por meio de exposições temporárias, obras de arte permanentes, música, dança e circo. 

Ana Maria Mazzoni, 57, coordenadora de ação cultural do metrô, e Mônica Braga, 52, analista de desenvolvimento de gestão, ambas com mais de trinta anos de empresa, relatam que a ideia de manter um acervo cultural vem desde a inauguração do serviço. Tudo começou em 1970, com as ações culturais de música na Estação São Bento. 

Atualmente existem dois programas: Linha da Cultura, que engloba exposições temporárias, música, dança e circo, e Arte no Metrô, que é o acervo permanente. O metrô possui 91 obras de arte de 66 artistas plásticos em 37 estações. 
Radha Abramo, curadora oficial do Palácio do Governo, crítica e curadora de arte, foi quem consolidou o projeto Arte no Metrô, juntamente com o arquiteto Marcello Glycerio de Freitas. 

Em 1978 foi inaugurada a primeira obra de arte na Sé. Atualmente são seis – quatro das quais foram tombadas. Entre as obras se encontram: Garatuja (1978), de Marcelo Nitsche; mural sem título 
(1978), de Renina Katz; Colcha de Retalhos (1979), de Claudio Tozzi; escultura sem título (1979), de Alfredo Ceschiatti; painel Como Sempre Esteve, o Amanhã Está em Nossas Mãos (1979-1987), de Mario Gruber Correia. A obra Fiesta, do artista Waldemar Zaidler, esteve na Bienal de 1985. Zaidler foi pioneiro de grafites em São Paulo e trouxe os elementos dessa arte para a sua obra. Fiesta, segundo relato do artista, tem um “filho” que fica em um museu nos EUA. 

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Em 1991 foi criada a Comissão Consultiva de Arte, que é composta por representantes de diversos museus de São Paulo e membros da companhia do metrô, que avaliam e estabelecem critérios e procedimentos para aprovar a entrada de novas obras no acervo. Desde 2012 foram apresentados 25 projetos – oito deles foram aprovados mas nenhum instalado, pois os artistas não conseguiram captar recursos. Os artistas interessados em ter suas obras expostas nas estações devem seguir o regulamento, que está detalhado no site do metrô. 

Na gestão atual, o metrô está tentando captar recursos junto à iniciativa privada para o restauro e a manutenção do programa Arte no Metrô. Ana Maria ressaltou que a missão da companhia é transportar pessoas, daí a dificuldade na captação de recursos públicos destinados à arte. 
Existe a percepção de que a cultura é apreciada pelo público usuário do metrô. Como exemplo, Ana Maria cita a apresentação da orquestra Jazz Sinfônica do Estado de SP. “As pessoas estavam lá em pé e ficaram até a última música”, contou. Segundo ela, o maestro, uma pessoa sisuda, que nunca sorria em suas performances, ficou tão satisfeito com a reação do público que esboçou um largo sorriso e prolongou a apresentação por uma hora. 

O critério utilizado para a escolha das estações que vão receber uma exposição leva em conta o espaço físico, a quantidade e o tamanho das obras, assim como a temática. Em agosto de 2019, na Estação Santana, acontecerá uma exposição cujo tema são os prédios históricos tombados no bairro. 

Manutenção e restauro são desafios

Dois dos desafios da equipe de Ana Maria são a manutenção e o restauro das obras expostas, tanto pela grande proximidade do público como pelas características da estação, cuja vibração causada pela trepidação da passagem do trem prejudica a estrutura das obras. Todos os trabalhos são expostos com proteção acrílica ou guarda-corpo.

A divulgação das exposições é feita por meio do site e das redes sociais do metrô, na TV Minuto, pela assessoria de imprensa e mesmo por um catálogo online, atualizado em 2012. Em comemoração aos 50 anos do metrô, em 2018 foi realizado o Museu Subterrâneo, uma série de visitas guiadas às obras, conduzidas por educadores de arte contratados em parceria com a Secretaria da Cultura. 

Já para celebrar os 51 anos está em curso, na Estação Sé, a exposição Anônimos no Metrô, na qual o artista Paulo Henrique Vieira produziu esboços rápidos de pessoas reais que circulavam nos trens. As pessoas nem se deram conta de que estavam sendo desenhadas, daí o nome da exposição. 

Por Ana Lúcia Lanzone, Anete Zimerman de Faingold, Claudio Viggiani, Eliane Teixeira e João Alberto Jorge Neto

Para levar o metrô com você

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Logo ali, no saguão principal da Estação Sé do metrô de São Paulo, um pouco escondido apesar de não ficar encostado nas paredes, existe um quiosque que vende lembranças que remetem ao metrô. São ímãs e chaveiros com o nome das estações e cadernos e canecas com o mapa das linhas atuais.

Wilker Danton, 20 anos, um dos dois funcionários da lojinha, vende, por turno, cerca de 200 peças, sendo a maioria chaveiros, canecas, além de cadernos. Em dia de grandes eventos pela região central, ele chega a vender 1,2 mil itens.

Essa loja, terceirizada, fica aberta de segunda a sexta das 8h às 20h e, aos sábados, das 8h às 16h.

Por João Alberto Jorge Neto

Orelhão não é peça de museu

Quem transita pela Estação Sé observa várias pessoas utilizando telefones públicos, algo estranho numa época em que quase todo mundo tem smartphone. Uma explicação pode ser a dada por Jorge (que não quis revelar seu sobrenome), de 53 anos: ele estava no orelhão porque o crédito de seu plano pré-pago tinha acabado. Sem ter cartão telefônico, ele fez uma ligação a cobrar. Jorge mora na região e utiliza a Estação Sé no dia a dia. Ele acredita que a atenção dos metroviários era melhor antigamente, talvez pelo fato de hoje haver muito mais gente utilizando o metrô.

Por João Alberto Jorge Neto

Metrô Sé alegra e traz cultura

Ino Carlos, 53 anos, é carteiro e utiliza o metrô no seu dia a dia. Sempre se alegra ao ver programas culturais na Estação Sé. Aprecia as apresentações musicais e as exposições culturais e tem a percepção de que a estação é limpa e bem cuidada, apesar do trânsito sempre intenso de pessoas.

Por Marcelo Thalenberg e Vera Lúcia Parede

O fantasma da loira do túnel

A época é algum ano do final da década de 1970, “provavelmente 1979”, conta quem se lembra da história que circula entre os mais antigos funcionários do metrô de São Paulo. Encerrado o horário comercial, uma encarregada da limpeza é informada que deve seguir no trem que irá recolher e ir até determinada estação. Cansada, embalada pelo sacolejar ritmado da composição, ela logo cochila, e até desliza um pouco pelo banco, o corpo procurando uma posição mais confortável, e, claro, passa da estação na qual deveria descer. 

Alheio a tudo isso, o operador de trem segue o programado. Ao chegar à Estação Ana Rosa, caminha por toda a plataforma observando, por fora, vagão por vagão, para ter certeza de não ter sobrado nenhum passageiro distraído. Seguro de que não há ninguém, ele leva o trem até um túnel paralelo à plataforma existente na estação, planejado para melhor eficiência no início da operação comercial (assim, as estações intermediárias já são atendidas sem que seja necessário esperar os trens que partem das estações terminais Jabaquara e, na época, Santana).
   
Tudo está em silêncio e ele começa a apagar as luzes da composição. É nesse momento que a encarregada da limpeza acorda de sobressalto e percebe a situação: está trancada no vagão! Ela observa o operador se afastar e, para chamar sua atenção, começa a bater fortemente na janela. O que o operador vê, no entanto, é apenas um vulto de cabelos claros em um local onde ele jurava não haver ninguém. A reação não poderia ser mais adequada: ele sai em desabalada carreira, sobe correndo as escadas e, com os olhos arregalados, informa ao seu supervisor: “É o fantasma da loira do túnel, eu vi! Batendo na janela do trem”. 

Incrédulo e irritado, o supervisor faz com que o operador o leve até o local, já ameaçando com uma suspensão pela gracinha, mesmo diante das juras do operador. Quando ambos chegam próximo ao trem, a encarregada da limpeza, ainda mais desesperada, começa a bater com mais força na janela, temendo passar a noite toda ali. Os socos violentos, a escuridão e o clima aterrorizante formam o cenário perfeito para que ambos, supervisor e operador, decidam, com uma rapidez surpreendente, dar meia-volta e chamar reforços contra aquela que, sem dúvida alguma, era a loira do túnel assombrando a estação. 

Pois foi só com a chegada da equipe de segurança, dotada de lanternas e muita coragem, que a confusão foi desfeita. Portas do trem abertas, finalmente livre para ir para casa estava a encarregada da limpeza, que provavelmente deve ter pensando em tingir os cabelos. 

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