top of page

ESPECIAL SESC AV. PAULISTA

6-sescavenidapaulista-fotospedrovannucchi-13-1120x747_edited.jpg

O GIGANTE CULTURAL DA PAULISTA

Textos e fotos produzidos coletivamente pela quarta turma do Repórter60+

Colocados em pontos estratégicos, sensores registram o número de pessoas que entram no prédio localizado no número 119 da Avenida Paulista. Quando foram instalados, a expectativa era a de que eles contabilizassem semanalmente, após a análise por um algoritmo para maior precisão, 18 mil pessoas. A estimativa se mostrou acanhada. “Desde a inauguração, não tivemos nenhuma semana sem atender menos de 28 mil pessoas e, atualmente, a média é de 40 mil”, diz Felipe Mancebo, de 53 anos, gerente do Sesc Avenida Paulista. 

a-felipemancebo-4-520x435.jpg

Aberto ao público em 29 de abril de 2018, o Sesc Avenida Paulista conta com 17 pavimentos e dois subsolos, com área construída de 12 mil m². O público pode acessar salas de exposição e espetáculo, de tecnologias e artes, locais para práticas corporais e esportivas, clínica odontológica, espaço para crianças, biblioteca, comedoria, café terraço, mirante com vista panorâmica. Todos dentro das normas de acessibilidade. 

Com programação pensada para atuar no tripé corpo-arte-tecnologia, a unidade foi concebida para ser a mais tecnológica entre todas as demais do Sesc paulista. O prédio possui um conjunto de 166 câmeras de monitoramento, contribuindo para a segurança dos frequentadores. Com vários recursos de sustentabilidade, o projeto foi vencedor de um concurso neste quesito (veja mais em “Arquitetura sustentável na Avenida Paulista”). Os ambientes contam com uma série de plugues que, por meio 

16-espaos-da-unidade-ft-roberto-assem-152-800x533-2.jpg

Créditos: Sesc Avenida Paulista

de ajustes realizados pela administração predial, podem adotar a função necessária, seja como tomada de energia, ponto de som, de vídeo ou de rede. Isso possibilita, por exemplo, que uma aula ministrada no quarto andar seja filmada e transmitida em tempo real para um telão instalado na cafeteria, sem a necessidade de cabos externos.

a-rosana-kibino-628x525.jpg

Rosana Kibino, 39 anos, orientadora de público do Sesc Avenida Paulista, tem, como parte de sua função, ajudar no acesso, explicando o funcionamento dos elevadores. Porém, percebe que parte do problema está no fato de muitos frequentadores não se atentarem às informações. “Tem gente que não digita o andar para onde quer ir e entra em qualquer elevador; isso faz com que, muitas vezes, seja disparado o alarme de superlotação que impede o fechamento das portas por segurança”, comenta. 

Para Mancebo, com tudo isso, a localização dos espaços de alimentação se mostrou inadequada. “Apesar da vista linda para quem toma um café, eu adoraria ter o espaço de alimentação localizado no segundo e terceiro andares; ter um ambiente superocupado onde as pessoas precisam chegar de elevador, é complicado. Se pudesse, eu mudaria”, diz.

A decisão afetaria Norberto Magalhães, que tem 61 anos e sempre que está na Avenida Paulista sobe até o 17° andar para um café e um doce, pois adora a vista e o atendimento. ”Hoje, vou de sagu com hibisco e canela”, comenta, citando uma das diversas opções do cardápio. E Sandra Cristina Fernandes não se incomoda com a dificuldade de acesso. “Trabalho aqui próximo e venho sempre almoçar. Aprecio o cardápio e a organização", diz ela. 

Além da comedoria e do café, também são alvo da preocupação do gerente o Espaço Criança, com demanda muito além de sua capacidade, e o mirante, o local mais procurado da unidade. A ideia é pensar em ajustes que contribuam para agilidade e qualidade do atendimento.  
 

a-norbertomagalhaes-304x336.jpg
mirante-e-caf-terraosescavenidapaulista-fotospedrovannuchi-konigsbergervannucchi8-628x628.

Créditos: Sesc Avenida Paulista

Além dos espaços internos, a atração promovida pelo Sesc impactou também o exterior. A concentração nos 2,8 quilômetros de avenida, principalmente aos domingos, quando a via é fechada para os carros, se destacava, até então, entre a Av. Brigadeiro Luiz Antônio e a Rua Augusta e, agora, envolve seu trecho inicial, antes um lugar de passagem. Mancebo diz que o testemunho é dos responsáveis pelos outros equipamentos culturais que ocupam o quadrilátero do entorno (Itaú Cultural, Japan House e Casa das Rosas), que registraram significativo aumento de público desde a chegada do Sesc. 

E vem mais mudança por aí. Um projeto, já bem encaminhado com a Prefeitura de São Paulo, prevê o fechamento definitivo aos carros de parte da Rua Leôncio de Carvalho, com a criação de uma praça unindo o Sesc Avenida Paulista ao seu vizinho Itaú Cultural. Concretizada, a alteração será considerada na programação, ampliando as formas de ocupação dos espaços. Algo que ainda não parece satisfazer Mancebo. “O que eu gostaria, mesmo, era poder comprar o prédio do lado e ter uma outra torre para acomodar todas as atividades e público”, diz, brincando. 

sescavenidapaulista-fotospedrovannucchi-14-628x448.jpg.png

Créditos: Sesc Avenida Paulista

Fotos: Sesc Avenida Paulista

18-espaos-da-unidade-ft-roberto-assem-38-800x533.jpg.png

Créditos: Sesc Avenida Paulista

TERRITÓRIO INFANTIL

O 3º andar é todo delas, crianças de 0 a 12 anos. O espaço tem três fraldários, espaço para alimentação infantil, banheiro familiar, duas banheiras para banho e sanitário infantil. Inserido em um programa que existe em quase todas as unidades do Sesc, o Espaço de Brincar pretende promover momentos de interação entre pais ou responsáveis com as crianças. Não é permitido deixar a criança lá para mais tarde ir buscar. Uma colmeia, cipós, bichos fantásticos, vagalumes e até uma visão do fundo do mar compõem o cenário para a imaginação dos pequenos correr solta. 

Seis educadores formam a equipe do Espaço Criança. “Todo educador infantojuvenil passa duas vezes ao ano por um treinamento e sempre está se atualizando”, conta Natália Triveloni, 38 anos, educadora de referência do Espaço Criança. Formada em ciências sociais e pós-graduação em jornalismo literário, trabalhou no Sesc Santo André por 7 anos e atualmente está no Sesc Avenida Paulista.  

bibliotecasescavenidapaulista-fotos-pedrovannuchi-konigsbergervannucchi5-2000x1333.jpg.png

Créditos: Sesc Avenida Paulista

PARA TODOS OS LEITORES 

Mais de 5 mil títulos estão disponíveis para leitura na biblioteca localizada no 15º andar. Computadores para pesquisas, mesas e bancadas com pontos de conexão de energia, aparelhos acessíveis, como ampliador de caracteres, linha braile e conversor de texto em áudio completam os serviços oferecidos para os usuários. As obras abrangem literatura nacional, estrangeira e infantil, além de livros de música, arte, teatro, dança e a revista do Sesc. Um acervo especial reúne livros autografados. O mobiliário inclui cadeiras, bancos e sofás para maior conforto. 

“É uma biblioteca muito ativa, com alta frequência e, também, empréstimo de livros. Como existem muitas faculdades no entorno, é grande a presença do público universitário”, diz a bibliotecária Ludmila Almeida. Os frequentadores podem pegar até quatro livros emprestados por vez. O atraso na devolução não é cobrado, mas o “esquecido” deve esperar o mesmo número de dias de atraso para poder realizar um novo empréstimo. “A política do Sesc não é punir o leitor, e, sim, sempre acolher e entender cada situação”, explica Ludmila.   

a-camilapeterlini-1-1046x875.jpg.png

SAÚDE BUCAL ACESSÍVEL

A atenção à saúde também faz parte da oferta do Sesc Avenida Paulista. Seu oitavo andar é totalmente dedicado ao serviço de odontologia, abrigando quatro consultórios odontológicos, três consultórios cirúrgicos, com raio X panorâmico e periapical, além de um espaço para ações educativas. O atendimento não é gratuito e é exclusivo aos usuários que possuem credencial plena válida no estado de São Paulo. No entanto, não há uma tabela de preços fixa. 

“Seguimos o princípio da equidade e o valor do tratamento é definido de acordo com a faixa de renda e o número de dependentes do usuário, com subsídios que variam de 80% a 90% do total”, explica Camilla Peterlini, coordenadora de Odontologia do Sesc Avenida Paulista.

Ela destaca ainda que, como todas as atividades do Sesc, o serviço de odontologia tem caráter educativo. “A ideia é educar durante o processo; entregamos um kit de higiene bucal, damos orientação de higiene e de hábitos, tanto para o paciente quanto para os familiares que o acompanham”, comenta. 
 

O espaço conta com uma equipe de 32 profissionais, em 2 turnos. São 14 dentistas, 16 auxiliares, uma supervisora e uma coordenadora (ambas formadas em odontologia). Além de atender clínica geral, é uma das unidades que se especializou nos atendimentos em ortodontia e implantes (as outras duas são o Sesc 24 de maio e o Sesc Guarulhos). O atendimento a estas especialidades são centralizados pela Administração Central do Sesc, analisados e redistribuídos para depois serem direcionados a uma destas três unidades. As inscrições para tratamento odontológico em todas as unidades do Sesc SP ocorrem por meio do portal, uma vez por ano, geralmente em março.

 

Para Thelma Prado Duek, supervisora da odontologia e recentemente no cargo, o maior desafio que enfrenta é ficar longe do consultório. “Sou apaixonada por clinicar, mas reconheço a importância desta experiência, que é a oportunidade de vivenciar o atendimento ao paciente com o olhar da orientação. É extremamente gratificante”, conta. 

ESTÍMULO AO MOVIMENTO

a-flaviacristinatoscano-1046x1256.jpg
11-itamar-martins-de-oliveira-1046x875.jpg
gabriel-cruz-lima-676x507.jpg

Entre o 10° e o 12° andares, a regra é se movimentar. São três andares de atividades direcionadas para o pilar Corpo. São oferecidas diversas opções de práticas esportivas para o público em geral, além de algumas exclusivas para os matriculados, portadores de carteirinha. “O mais procurado é o pilates, temos os aparelhos para a prática e instrutores; somos a única unidade do Sesc a oferecer a modalidade”, conta Flávia Cristina Toscano, 31 anos, supervisora do núcleo esportivo do Sesc Avenida Paulista.

Os espaços atraem pessoas de locais distantes da cidade, como Itamar Martins de Oliveira, de 78 anos, morador do bairro do Tatuapé, São Paulo. Ele frequenta o Sesc Avenida Paulista toda quarta e sexta e aos domingos para prática esportiva. “Hoje estou me preparando para o torneio de tênis de mesa que vai acontecer aqui na próxima semana”, contou, no intervalo entre as ágeis raquetadas. 
 

Já Gabriel Cruz Lima, de 21 anos, aceitou um desafio da Semana Move, iniciativa realizada em toda a América Latina para destacar a importância das atividades físicas no dia a dia. Observado por Roberto Xavin, de 30 anos, instrutor de ginástica multifuncional do Sesc Avenida Paulista, Lima topou realizar uma sequência frenética de agachamentos, burpees, flexões de braços e pranchas dinâmicas. Ele estava tentando sagrar-se campeão ao realizar o maior número possível destes exercícios em apenas um minuto. 

Arquitetura sustentável na Avenida Paulista

a-juarezpereira-520x435.jpg

De fachada envidraçada, o prédio do Sesc Avenida Paulista conta com sensores de luz e temperatura, que, automaticamente, acionam persianas, abrindo ou fechando para controlar a luminosidade, otimizando o uso da luz natural sem abrir mão do conforto nos ambientes. Cobertura verde, isolamento térmico e acústico, mobilidade sustentável, uso racional de água, eficiência energética e aquecimento solar somam-se como itens de sustentabilidade e tornaram o projeto de reforma do prédio que abriga o Sesc Avenida Paulista vencedor do Prêmio Saint Gobain de Sustentabilidade 2018.
 

Seu mirante, no topo do 17° andar, que permite uma vista privilegiada da Avenida Paulista, se tornou um concorrido local de visitação. A frequência é tanta que, nos finais de semana e feriados, foi necessário criar uma fila especial para acesso, só permitida às pessoas que pegaram adesivos distribuídos no térreo. “Há quem tente burlar o sistema, tentando subir sem ficar na fila e sem ter o adesivo, mas aí orientamos, explicando que superlotar o mirante compromete a segurança de todos”, diz Juarez Pereira, 50 anos, orientador de público do Sesc Avenida Paulista. 

O local já virou ponto turístico. Janaína Gomes de Lima, de 37 anos, aproveitava uma ensolarada tarde de sexta-feira para apresentar o mirante à amiga vinda do Rio de Janeiro, Elenira Azevedo, de 62 anos. Ambas estavam acompanhadas da filha de Janaína, Sophie, de 9 anos, que faltou na escola para participar do passeio. “Sempre que tem visita de fora de São Paulo, trago pra conhecer aqui”, diz. 

O sucesso do mirante era esperado. Nem tudo no resultado da reforma foi planejado, porém. “Com o projeto executivo praticamente pronto, tivemos que atender uma solicitação do corpo de bombeiros que nos pediu aberturas na grande fachada envidraçada a fim de possível extração de fumaça. Os rasgos que não estavam previstos tornaram esta lateral mais interessante do que o projeto original”, reconhece Giancarlo Vannucchi, arquiteto do escritório Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, responsável pelo projeto. 

a-eleniraazevedo-sophie-jananagomeslima-628x471.jpg

Esta foi apenas uma das inúmeras mudanças ocorridas até que o Sesc Avenida Paulista se tornasse realidade. O caminho foi longo e demandou uma verdadeira transformação do prédio que, durante muitos anos, abrigou a administração central do Sesc (Serviço Social do Comércio) e a sede da Fecomércio (Federação do Comércio). A decisão da migração de ambas as estruturas – para o bairro do Belenzinho e para a Av. Nove de Julho, respectivamente – tornou possível o planejamento de uma unidade “na mais paulista das avenidas”. Após cinco anos funcionando como unidade provisória e mantendo uma programação adequada ao espaço improvisado, as obras foram iniciadas. Foram necessários oito anos para a conclusão, parte do tempo consumido por problemas relacionados à necessidade de troca da construtora, envolvida em escândalos de corrupção. Uma nova licitação, vencida pela Omar Maksoud Engenharia, possibilitou a continuação após dois anos de paralisação. 

2-sescavenidapaulista-fotospedrovannucchi-9-400x560.jpg.png

Créditos: Sesc Avenida Paulista

6-sescavenidapaulista-foto-pedrovannuchi-konigsbergervannucchi-400x600.jpg

Créditos: Sesc Avenida Paulista

Adequações foram feitas até mesmo às vésperas da abertura, em prol do bom atendimento ao público. Um bom exemplo foi a mudança de toda a lógica do serviço ao usuário proposta por Felipe Mancebo, que acumula 32 anos de trabalho no Sesc. Convidado para assumir a gerência da unidade Avenida Paulista, ele vislumbrou a oportunidade de mudar algo que o incomodava desde seus primeiros anos na entidade, quando atuava no Sesc Consolação: a central de atendimento, local onde é possível fazer a carteirinha, matricular-se em cursos, comprar ingressos, tirar dúvidas. 

“Com seus guichês e postos de atendimento, todas me pareciam uma agência bancária”, diz Mancebo. Para ele, quando há guichês sem funcionários, a sensação natural é a de ineficiência e mau atendimento. “Mesmo para quem não está com pressa e tendo apenas uma pessoa na sua frente na fila, é uma situação incômoda”, afirma. “E nem sempre é possível ou estratégico manter todos os postos ocupados. Alguém pode ter faltado, ou estar em um treinamento, ou até o horário não demandar aquele volume de profissionais deslocados para o atendimento”, explica. A solução foi mudar todo o mobiliário e deixar os atendentes circulando pelo espaço, indo até a pessoa que busca o atendimento.

Em caso de previsão de demora, o atendente anota o número do celular do interessado, que pode passear pela unidade enquanto espera o SMS avisando que chegou sua vez. Um posto central com impressora e todos os demais equipamentos necessários é compartilhado. “Isso diminuiu, inclusive, a necessidade de se ter, para cada um dos guichês, um computador, uma cadeira, uma impressora, uma gaveta para o dinheiro, um monitor etc.”, destaca Mancebo. “Foi uma luta, já tinha toda uma lógica para o atendimento na forma tradicional, mobiliário concebido. Mas conseguimos colocar em prática".  

Mancebo acredita, porém, que cerca de 80% das ideias propostas pelo escritório responsável pela arquitetura, mobiliário e design foram aceitas e executadas. O mobiliário do Sesc Avenida Paulista tem design moderno, projetado para proporcionar ao usuário conforto, descontração e bem-estar. Willian Rodrigues da Silva, de 21 anos, costuma usufruir deste cuidado. Entregador de comida via aplicativos como iFood e Uber Eats, ele vai quase diariamente ao Sesc Avenida Paulista desde a inauguração e utiliza os confortáveis sofás para descansar, fugir da chuva ou até dormir enquanto espera novas chamadas. Também aproveita as comodidades para recarregar a bateria do celular e ler. 

a-wilsonrodriguessilva-520x435.jpg

Obras de arte

Além de sustentabilidade, conforto e eficiência no atendimento, o prédio foi pensado para ser uma pequena galeria de arte e conta com um acervo de obras espalhado pelos seus 17 andares. Por exemplo, na entrada do prédio, está a obra “O astronauta”, de Erika Verzutti. Uma parede lateral recebeu uma série de obras de Cao Guimarães, denominada “Nichos de Gambiarras” (anotações, música e luminárias 2008-2009/2014). Na biblioteca, que se encontra no 15º andar, é possível ver a parede de lupas, obra de Elida Tessler – “Desertões”, com uma nova leitura da obra de Euclides da Cunha, "Os Sertões". E no mirante encontra-se a obra de Dora Longo Bahia, denominada “Black Bloc” (2014). 

o-astronauta-520x693.jpg

A inteligência por trás da programação

Tendo a diversidade como palavra-chave, a programação do Sesc Avenida Paulista encaixa-se dentro da proposta educativa e sociocultural baseada nos pilares corpo, arte e tecnologia, foco da unidade. São várias as opções de atividades, como artes visuais, cinema, vídeo, fotografia, teatro, música, literatura, alimentação, meio ambiente e ações para cidadania, e a busca é pelo atendimento intergeracional (crianças, jovens e idosos). Por trás das definições do que disponibilizar ao público, está um grupo de 63 técnicos, das mais diferentes áreas. Bombardeados de sugestões e propostas de atividades que chegam pelos mais diversos canais (telefone, e-mail, redes sociais, site da unidade, contatos pessoais) e devem, obrigatoriamente, ser analisadas uma a uma, esses profissionais ainda precisam manter-se atualizados e atentos ao que acontece no Brasil e no mundo, com viagens e contatos, para uma programação de qualidade e alinhada com os temas atuais. 

a-adrianasouzafrancisco-520x705.jpg

“Para finalmente propor a inclusão na programação, o técnico precisa atender a uma série de justificativas e, também, avaliar o orçamento, a viabilidade técnica, os detalhes da montagem do espaço para, então, levar à aprovação pela gerência”, explica Adriana de Souza Francisco, 35 anos, coordenadora de programação do Sesc Avenida Paulista. E o trabalho não termina aí. Os projetos de diversas linguagens são discutidos, articulados e, muitos, desenvolvidos de forma a estabelecerem relações. Como exemplo, de forma paralela à exposição do fotógrafo Sebastião Salgado sobre o garimpo em Serra Pelada, foi organizada uma oficina de argila. As iniciativas podem, também, se espalhar pelo prédio. Um exemplo é o projeto “Música para”, que leva apresentações musicais para diversos ambientes. “Levamos um quarteto de cordas na área de odontologia, além de música na biblioteca e em diversos outros locais”, diz Fernando Ribeiro Gonçalves, de 42 anos, animador cultural e responsável pela programação musical do Sesc Avenida Paulista. 

“É um grande quebra-cabeça acomodar todas essas propostas pensando dia a dia, horário a horário e a ocupação dos espaços”, diz Adriana. Faz parte das peças deste quebra-cabeças o que acontece na vizinhança. O Sesc Avenida Paulista é membro da Associação Paulista Cultural, que reúne espaços como Sesi, Itaú Cultural, Japan House, MASP, Casa das Rosas e Instituto Moreira Salles. As conversas dos técnicos do Sesc Avenida Paulista com os representantes dessas entidades são bastante intensas para se evitar sobreposições ou repetições. Mas há o encontro de sinergias, como a anunciada pelo gerente da unidade, Felipe Mancebo: o ano de 2020 será marcado pela primeira exposição simultânea, com parte das obras expostas no MASP, parte no Sesc. 

Responsáveis por uma unidade que já sente os reflexos de um excesso de público, os técnicos precisam manter sempre a consciência de que o local não comporta atrações de grandíssimos nomes, como, por exemplo, o cantor Gilberto Gil. “Evitamos tentar servir um peru num pires”, diz Mancebo, citando uma frase usada internamente no Sesc para nortear este tipo de decisão. 

EXPOSIÇÕES

Em linha com o propósito da instituição, as exposições organizadas para ocupar o 5º andar do Sesc Avenida Paulista se fundamentam nos pilares de arte, tecnologia e corpo. O espaço é dinâmico, podendo ser adaptado conforme a demanda de cada artista. “A pesquisa das obras se dá em conjunto com a Administração Central, com antecedência de quatro a oito meses, aproximadamente”, diz Lilian Sarmento Sales, supervisora do Núcleo de Artes Visuais e Audiovisual do Sesc Avenida Paulista. 

Desde a inauguração, foram realizadas quatro exposições com boa visibilidade na mídia e grande interesse do público: Bill Viola, Bibliotecas à Noite, O Tempo Mata e, no momento, Gold – Sebastião Salgado, que tem atraído cerca de 1.000 pessoas por mês. A próxima exposição será de Anna Bella Geiger, em parceria com o MASP (Museu de Arte de São Paulo). 

Uma particularidade é que toda exposição é acompanhada de um projeto educativo, com oficinas destinadas ao público, com duas formas de atendimento: espontâneo e agendado a grupos. “As oficinas ocorrem no 6º andar, que tem uma visão privilegiada da exposição em andamento; vale a pena observar desse ponto”, sugere Vinebaldo Aleixo de Souza Filho, supervisor educativo. 

Sêniores no time

Para Felipe Mancebo, gerente do Sesc Avenida Paulista, o orgulho de seu trabalho não está em administrar um prédio moderno e sustentável com uma arquitetura acolhedora, nem oferecer uma programação diversa, abrangente e atual para os frequentadores. O ponto alto, segundo ele, é a equipe com a qual trabalha. “Quem me conhece sabe que eu falo muito, sou bastante irônico e chato. Sabe, também, que eu não faço média. Então, quando falo que me orgulho da equipe é porque é verdade”, afirma. Ele diz que não é fácil atuar com o que eles trabalham: o ser humano, um “bichinho complicado”, nas palavras do gerente, que se torna ainda mais complicado quando reunido em um grupo de 40 mil, o total de visitantes semanais da unidade. “Apesar disso, eu tenho certeza: uma pessoa pode vir ao Sesc Avenida Paulista no domingo às 18h30; a equipe estará visivelmente cansada e desgastada, mas duvido que ao abordar qualquer funcionário será tratada com rispidez”, garante. 

A contratação desta equipe resistente é feita de forma centralizada, por meio de concurso. Após o processo seletivo, o profissional é direcionado para determinada unidade. Além dos funcionários concursados, as unidades contam com temporários, estagiários e terceirizados (normalmente para segurança, limpeza, manutenção e lavagem de louça). Já os funcionários contam, principalmente, com duas formas de plano de carreira: horizontal (dentro da própria carreira, por exemplo, a carreira de escriturário vai do nível I ao V) e vertical (entre as diversas áreas por processo seletivo interno).

a-antoniozavattieri-1046x1212.jpg

Crescendo no SESC

Com relação à idade, Antônio Zavattieri, de 63 anos, é o mais velho entre os profissionais do Sesc Avenida Paulista. No Sesc, iniciou sua carreira na unidade da Vila Mariana, em 2011, como auxiliar de atendimento, na área de alimentação. Antes disso, trabalhou em lanchonete, feira, como ajudante de pedreiro e taxista. Com a oportunidade dada pelo Sesc, fez o curso de tecnólogo em gastronomia em 2012. “Agradeço por hoje estar atuando na produção de lanches”. Nessa área ele faz pão, pastas e outros recheios e monta os sanduíches. Em seu trabalho, Zavattieri atende aos 16º e 17º andares, onde estão a Comedoria e o Café Terraço, respectivamente. 

Nesses oito anos, ele trabalhou também na unidade de Santo Amaro. “Fiquei feliz de vir para a Paulista, por estar mais próximo de casa e, também, pela mudança de ambiente e por conhecer novas pessoas. Tudo isto é muito bom”. A diversidade de gerações que frequenta o Sesc, a chefia e a equipe da unidade também agradam muito ao funcionário. “De modo geral me satisfaz muito trabalhar com esta chefia e equipe. Acho que vou me aposentar por aqui”, afirma. 

De auxiliar a supervisor

Ricardo de Camargo tem 59 anos e ocupa o segundo lugar entre os mais velhos profissionais da unidade Avenida Paulista. Ele trabalha no Sesc há 21 anos e durante este tempo atuou nas unidades Itaquera, Pinheiros, Belenzinho e Bom Retiro. Está no Sesc Avenida Paulista desde a inauguração. Antes disso, foi técnico têxtil e militar. Ele entrou no Sesc em 1998 como temporário na área de alimentação. Ao final deste contrato surgiu a oportunidade para ser efetivado como auxiliar de cozinha, um trabalho que deu a ele muita alegria, pois lhe proporcionou uma formação acadêmica. 

a-ricardocamargo-1046x875.jpg

“Foi muito gratificante para mim, quando entrei na faculdade; foi uma grande vitória porque eu não tinha curso superior. Foi através do Sesc que consegui me graduar”, conta. 

Com a graduação, foi promovido a supervisor de distribuição de alimentos. Nessa função, ele cuida da distribuição de produtos prontos, verifica a equipe, vistoria as vitrines e orienta os funcionários quanto ao atendimento aos clientes. “Estamos ali para dar suporte de serviço à equipe”, explica. Em seu trabalho ele lida com várias gerações, uma vez que o Sesc tem atividades diversas para crianças, jovens e idosos. “O trabalho é interessante e complexo, porque temos segmentos diferenciados para cada tipo de público”, comenta. Na área de alimentação, o Sesc tem um cardápio específico para cada geração. Por exemplo, as crianças que participam de atividades de contraturno escolar recebem um lanche específico. “Elas precisam de um cardápio de educação alimentar e social, e a gente vê o crescimento delas, mudança de postura e tudo mais. Isto é um resultado positivo e gratificante”. Quanto aos idosos, Camargo comenta que percebe uma participação cada vez mais efetiva deste público nas atividades. E deixa claro seu envolvimento com o trabalho. “Amo trabalhar no setor de alimentação daqui”, resume Camargo.

Recursos ameaçados

Mantido pelo setor do comércio, o Sesc é uma entidade de caráter privado com finalidade pública, tendo como prioridade os trabalhadores do setor de serviços. Seu nascimento, há 73 anos, surgiu da percepção de comerciantes de que deveriam fazer mais do que gerar salário e emprego, criando entidades para gerir projetos voltados à educação profissional e ao lazer dos funcionários. Atualmente, faz parte do chamado Sistema S, conjunto de nove instituições, cuja missão é promover o bem-estar social e disponibilizar uma boa capacitação profissional. Entre as outras entidades do grupo incluem-se Senai, Sesi e Senac. 

robertoassem-858x572.jpg.png

Os recursos financeiros que mantêm as atividades das 509 unidades Sesc espalhadas por todo o Brasil são oriundos de empresas dos mais diferentes ramos de atividade, como comércio, turismo e saúde, entre outros prestadores de serviço. É arrecadado 1,5% da folha de pagamento dessas empresas. Recolhidos pelo INSS, os valores são direcionados ao departamento nacional do Sesc, que, por sua vez, se encarrega de distribuir aos departamentos regionais, um em cada estado brasileiro. O montante repassado a cada unidade do SESC é definido pelo seu planejamento financeiro. “Temos pelo menos quatro auditorias para avaliar como 

os recursos estão sendo utilizados, que, claro, se atentam a qualquer desvio, mas cujo objetivo principal é encontrar formas de otimizar o uso do dinheiro. Nossas contas são submetidas aos governos municipais, estaduais e federal. A ideia é que se gaste plenamente os recursos arrecadados em prol do usuário”, disse Felipe Mancebo, gerente da unidade Avenida Paulista.

O orçamento volumoso entrou na mira do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Tem de meter a faca no Sistema S”, chegou a declarar publicamente, antes mesmo de assumir o cargo. A ameaça ventilada era a de o governo federal ficar com 20% a 40% do total arrecadado. 

“Eu acho que é muito mais bravata do que algo real”, acredita Felipe Mancebo, gerente do Sesc Avenida Paulista, apesar da publicação, em maio deste ano, de um decreto determinando o “detalhamento das contas do Sistema S na internet”, uma regra que vale para o setor público. Para Mancebo, a forma de manutenção financeira do sistema é garantida pela Constituição e seria necessária uma grande movimentação política para ser alterada. “É claro que uma canetada pode mudar tudo”, reconhece. 

De qualquer forma, a entidade já tem uma estratégia caso isso ocorra. “O Danilo (Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP) tem dito que nós teremos de rever nossa forma de atuação, de acordo com o corte”, afirma Mancebo. Entre as soluções possíveis, estão o aumento nos valores cobrados nos ingressos (atualmente comerciários pagam, no máximo, 9 reais por qualquer atração da programação); redução das atividades gratuitas, passando a serem cobradas; e maior tempo para inauguração de novas unidades. 

Mancebo destaca que esta não é a primeira vez que o orçamento do Sesc é alvo de cobiça de políticos.

tababendicto-854x569.jpg.png

No passado, tanto José Serra, do PSDB, como Fernando Haddad, do PT, quando ocuparam ministérios, tentaram de alguma forma fazer uso do dinheiro. A diferença, segundo explica Mancebo, era a forma deste uso. “Eles queriam que nossas ações complementassem as que eles estavam propondo, direcionando um pouco as atividades para este alinhamento. Não estou dizendo o que é melhor ou pior, mas mostrando esta distinção”, diz. Ele lembra, inclusive, que nestas conversas com o governo surgiu o PCG – Programa de Comprometimento com a Gratuidade, o que levou o Sesc a incluir mais atividades gratuitas em sua programação. “Este tipo de acordo nos deixa feliz, queremos atender pessoas das mais diversas classes econômicas. Mas o que não tem nada a ver, na minha opinião, é direcionar parte deste orçamento, que é bem administrado, sem desvios, para cobrir despesas não vinculadas à nossa vocação, como o rombo da Previdência. Usar estes valores para resolver problemas causados por um histórico de 500 anos de governos esquisitos é algo muito, muito desleal”, sentencia Mancebo. 

bottom of page