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ESPECIAL MERCADO MUNICIPAL

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Trabalho e Tradição Por Um Fio

As histórias do Mercadão

Textos e fotos produzidos coletivamente pela segunda turma do Repórter60+

Próximo ao Pátio do Colégio, onde a cidade de São Paulo começou, destaca-se o Mercado Municipal Paulistano, o Mercadão. Em todo o mundo, os mercados municipais se tornaram cartão de visitas de muitas cidades e em São Paulo aconteceu o mesmo. Com 270 boxes de produtos variados (frutas, bebidas, queijos embutidos, temperos), além das lanchonetes que, entre várias outras opções, servem os ícones de sua gastronomia - o pastel de bacalhau e o sanduíche de mortadela – o Mercadão atrai cerca de 50 mil pessoas semanalmente por suas cores, sabores, aromas e histórias, além da beleza da arquitetura idealizada pelo escritório de Ramos de Azevedo em 1929. “Se me pedissem para traduzir o Mercadão em apenas duas palavras, eu diria: trabalho e tradição”, diz Eloy Vega, 49 anos, administrador do local há um ano.

A tradição é confirmada pelo fato de haver permissionários (assim chamado quem obtém um termo de permissão de uso, o TPU, para operar no Mercadão concedido pela Prefeitura por meio de licitações) que acumulam nada menos do que 85 anos de atuação, sendo recorrente a passagem do negócio dentro da mesma família. Perde o direito ao TPU quem descumpre regras, como estar quite com os valores devidos à Prefeitura, ou infringe leis; e apesar da concessão do TPU poder ser revogada a qualquer momento, Vega deixa claro que a renovação de permissionários não é algo que preocupe a Prefeitura, sendo o mais importante o recebimento em dia do aluguel dos boxes, definido de acordo com a área ocupada. Com tudo isso, a última licitação foi há 4 anos. No entanto, não é difícil encontrar boxes sublocados. 

As mais de 1500 pessoas que mantêm a rotina de funcionamento do mercado respondem pela outra característica que define o Mercadão segundo seu administrador. Funcionando de segunda a sábado das 6h às 18h para vendas no varejo e das 22h às 6h para o atacado, abrindo de domingo e feriado das 6h às 16h para varejo, o trabalho é constante e intenso. Não há horário definido para a carga e descarga de produtos; para não ocupar espaço de vendas com estoque, os permissionários costumam utilizar imóveis da redondeza para armazenamento, tornando fácil a reposição quando necessário e gerando um zigue-zague ininterrupto de carrinhos pelos corredores internos.

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Visitando o local pela primeira vez, a nutricionista Vanessa Rodrigues Bezerra, de 26 anos, ficou encantada com o tamanho do espaço e a variedade de produtos. “Não tem como vir ao Mercadão e não experimentar o sanduíche de mortadela”, diz, confirmando diante dos seus conhecimentos em nutrição que o lanche “vale por uma refeição”. Vanessa é moradora de Presidente Prudente, tendo vindo a São Paulo para um curso de especialização na USP (Universidade de São Paulo) e passeava pelo mercado acompanhada da mãe, Maria Aparecida Rodrigues Bezerra, que, aos 62 anos de idade, também estreava no Mercadão.

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Visitando o local pela primeira vez, a nutricionista Vanessa Rodrigues Bezerra, de 26 anos, ficou encantada com o tamanho do espaço e a variedade de produtos. “Não tem como vir ao Mercadão e não experimentar o sanduíche de mortadela”, diz, confirmando diante dos seus conhecimentos em nutrição que o lanche “vale por uma refeição”. Vanessa é moradora de Presidente Prudente, tendo vindo a São Paulo para um curso de especialização na USP (Universidade de São Paulo) e passeava pelo mercado acompanhada da mãe, Maria Aparecida Rodrigues Bezerra, que, aos 62 anos de idade, também estreava no Mercadão.

Subterrâneos

Marcado por seu pé-direito que chega a 16 metros de altura, acabamento sofisticado e um projeto arquitetônico que explora a iluminação natural com o uso de claraboias e telhas de vidro, o Mercadão é amplo, iluminado e com boa ventilação. Características em total contraste com o ambiente reservado para aqueles que estão lá diariamente para trabalhar: o subsolo.

Verdadeiro labirinto, não iluminado adequadamente, sem indicações de saída de emergências e sem extintores visíveis, o espaço tem pouca ventilação e exala cheiro de urina. Por quase toda sua área útil, existem armários espalhados, identificados pelos próprios usuários e de pequenos tamanhos, já que botas, por exemplo, não cabem, sendo colocadas na parte de cima. Completam o cenário fios soltos, paredes com inúmeras infiltrações e rachaduras. Em dias de chuva forte, tendo em vista a proximidade com o rio 

Tamanduateí, o subsolo sofre inundações, ficando interditado e causando reflexo nos elevadores e nas instalações elétricas em geral. Não havendo um local apropriado, os funcionários, em seu tempo livre, buscam breve repouso nos degraus da escada existente na área do mezanino que dá acesso a uma área de uso variado, chamada de Salão de eventos. Sentando nos degraus, contrariam a curiosa ordem escrita em um improvisado cartaz de papel sulfite onde se lê: “Proibido descansar”. 

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Pessoas e patrimônio em risco

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Visitantes, permissionários, funcionários e o próprio prédio histórico do Mercadão estão sujeitos, diariamente, a uma situação de alto risco: a ocorrência de um incêndio. A precariedade das instalações de combate a incêndio é evidente. Faltam extintores de incêndio, mangueiras, hidrantes, alarmes, sinalizações, treinamento e rotas de fuga. Permissionários entrevistados confirmam a ausência de qualquer orientação referente à prevenção e combate a incêndio. Uma situação reconhecida pelo próprio administrador do local. “É um absurdo, mas o Mercadão não tem um AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros)”, disse Vega.

Segundo ele, é da Renome (Associação da Renovação do Mercado Central Paulistano), entidade que toca o dia a dia do Mercadão, a responsabilidade pela execução do anteprojeto de prevenção e combate a incêndio, ação que está andando muito lentamente, devido ao alto custo e queda do movimento de vendas. A alegação de alto custo, diante do total de um milhão de reais previstos, porém, não procede na visão de Vega, que considera o valor factível ao se considerar que será rateado pelos 270 permissionários.

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Os problemas de bastidores vão na contramão da apresentação esmerada com que os vendedores expõem seus produtos e a reconhecida qualidade do que se vende no Mercadão. Até agora invisíveis para os turistas, tornam o robusto Mercadão um local frágil onde tradição e trabalho podem estar por um fio.

Texto de Darcy Silva, Eduardo Luiz Mendes, Isabel Dias, João Francisco Aranha, João Gomes Antunes, Lea Elisabete Dantas Cortes, Marilda Teixeira Goldfeder, Miriam Bertolino, Sérgio Cahen, Stella Pereira e Walter Pinheiro Santos.

O MERCADO DAS FRUTAS

Dentre os atrativos do Mercadão, que não são poucos, os boxes das frutas, sem dúvida, merecem destaque pela aparência, aroma, sabor e - por que não? - beleza da exposição nas bancas cuidadosamente arranjadas, com o requinte das melhores vitrines. 
Originalmente, o Mercadão era o centro de abastecimento mais importante da cidade de São Paulo, principalmente no setor de frutas, que embelezam o local com sua variedade de espécies. Hoje, os boxes de frutas continuam sendo atração graças à qualidade dos produtos. Nacionais, exóticas e de várias partes do mundo, como Chile, Colômbia, Argentina, Ásia, Nova Zelândia e Israel, todas atraem os turistas. São encontradas espécies como a pitaia vermelha, pitaia colombiana, a granadine colombiana, o kiwi amarelo, o canistel (abacate caribenho), o pêssego donut (tipo nectarina), entre outras. 
As frutas são perecíveis e precisam de cuidados especiais no transporte, na 
embalagem e nas prateleiras, por isso, na maioria das vezes, são utilizadas frutas artificiais na exposição.

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Uvas e frutas vermelhas, por exemplo, duram no máximo cinco dias na geladeira. As mais duráveis são o melão, o abacaxi, a jaca, a manga e a maçã, que resistem até 15 dias, sem necessidade de refrigeração. Dentre as exóticas, a mais procurada é a tâmara israelense, carro-chefe no mercado de frutas atualmente, que é produzida o ano inteiro. Em épocas específicas do ano, são procuradas as frutas de ocasião, como as natalinas, morango, melão, manga e ameixa. Os preços são considerados acima da tabela, e muitas vezes exibidos por gramas, talvez para não assustar o cliente, que acaba não se apercebendo do valor real. Os vendedores e donos de bancas alegaram que, devido à qualidade e ao fato de serem frutas diferenciadas, é impossível equiparar o valor cobrado aos praticados nas feiras livres. “As importadas têm seus preços baseados em dólar, e sofrem a influência das variações cambiais”, disse D. que pediu para não ser identificado. Mesmo assim, o afluxo de clientes é grande, atraídos pela qualidade das bancas. “Sempre que venho passar férias no litoral de São Paulo, faço uma parada no Mercadão para comprar as frutas exóticas e diferenciadas, que não chegam em minha cidade”, conta Vivian Oliveira, 38 anos, de Barretos. 
 

Texto de Maria Eugênia Meireles e Malu Alencar 

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Gente que brilha nas bancas de frutas

Os boxes do Mercadão apresentam uma gama de vendedores com características semelhantes no entusiasmo e solicitude com que tentam atrair os clientes, mas que se diferenciam quanto aos sonhos e projetos de vida de cada um. Há a jovem recém-contratada, que quer estudar Direito, e a funcionária mais antiga, que está fazendo um curso de barbearia para complementar a renda. Há o homem de mais de 40 anos, pai de família, com a vida assentada e experiente, que se realiza com o que faz e dá preciosas lições de venda e o idoso de mais de setenta anos, que ali construiu a duras penas a sua história. 

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Bom humor vende

“Conhecer melhor o cliente, entrar na vida dele, sem parecer invasivo e saber o que ele gosta. Aí, vender é consequência”, resume o bem-humorado Ricardo Ribeiro, 42 anos, 3 filhos, vendedor de frutas da Banca do Juca. Mora em Guarulhos e acorda às quatro horas para chegar às seis no trabalho. Muito alegre, escancara sua vida revelando, entre outras coisas, um namoro aos 18 anos, com uma nissei que foi para o Japão e queria levá-lo com ela. Mas ele não aceitou e hoje se arrepende porque lá, ela morreu. Ante a surpresa pelo desfecho da história, faz um suspense e depois sentencia, com ares de dono do destino: “Se eu tivesse ido, talvez ela não morresse”. E antes que resvalasse para a tristeza, conclui: “Me considero feliz, porque tem gente que tem muito dinheiro e é triste, infeliz. Eu sou alegre, adoro o que faço. Eu nasci para vender”.

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Pão com pimenta

A refeição inusitada de pão - ou arroz - com pimenta era o alimento diário de Pedro Pereira da Cruz, paranaense, quando começou a trabalhar no Mercadão, puxando carrinho para carregar caminhões. 


Já era casado, com filhos, e o pouco que ganhava – duzentos cruzeiros –, mal dava para o sustento da família e nem permitia gastos com refeições no local de trabalho. Com o tempo, e após mudanças de cargo em várias bancas, conseguiu juntar dinheiro para comprar uma pequena barraca junto com dois irmãos. 
Hoje, aos 71 anos de idade, é dono da Banca do Juca, box que ganhou notoriedade com a 
gravação de uma novela na década de 1990.

Ele não segura as lágrimas ao lembrar de todo o sofrimento por que passou. Pai de duas filhas do segundo casamento (do primeiro ele não revela quantos), enfatiza a diferença de qualidade de vida que agora proporciona à família. Sobre o que lhe trouxe toda essa experiência, ele resume: “O que eu não podia comer eu forneço para os meus empregados. Aqui ninguém passa fome”. A mesa farta com garrafa de café com leite, pão, frios e margarina disponível para seus funcionários, evidencia o seu aprendizado de vida. 

Texto de Diva Reis e Maitê Ribeiro 

VOCÊ SABIA?

No Mercadão, há uma recomendação em vigor de uso exclusivo de facas descartáveis, visando maior segurança para funcionários e visitantes. No entanto, a orientação vem trazendo problemas. A faca plástica não é adequada para corte de vários produtos, dificultando a degustação, uma marca do Mercadão. “Sem falar na questão ambiental; só aqui no meu box utilizo 200 peças por dia”, comenta Luiz Augusto, do box I Want Fruit.

Texto de Maria Teresa Paliologo de Britto e Silvia Lucia Della Gatta

Violeiro, poeta, repentista, corintiano e católico

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Nada menos do que 56 anos é o tempo que João Levi Miguel está à frente da Levi Queijos, box especializado em laticínios. Aos 85 anos, ele faz questão de dizer que é nascido em Itu e orgulha-se das quase seis décadas de trabalho no Mercadão. Bem-humorado, simpático, acolhedor e com uma lucidez incrível para seus negócios, Levi faz repentes, poesias, é violeiro, e declara-se católico fervoroso e corintiano. 

Seu horário de trabalho começa cedo, às 4:30 da manhã e estende-se até às 17 horas. Em seu box, são encontrados queijos, conservas em geral, azeites, vinhos e embutidos das mais variadas procedências. 

Seus hobbies são suas composições, que ama, e seu trabalho. Não pensa em parar. Vê em seu neto, Yuri, de 25 anos, que o acompanha em todas as tarefas da banca, a continuidade de seu negócio. 

QUEIJOS E EMBUTIDOS: O PECADO DA GULA NO MERCADÃO

Dentre os aproximadamente 80 boxes de queijos e embutidos existentes no Mercadão, alguns aspectos se destacam mesclando tradição e alimento. 


No box Queijos Roni, um dos permissionários mais tradicionais, comercializando desde a abertura do Mercadão, a quarta geração da família Talarico Peta à frente do negócio trabalha com 11 tipos de queijos. Os carros-chefes são o queijo fresco, a ricota e a mussarela, todos de fabricação própria, sem conservantes. 


No Levi Queijos, que tem como carro-chefe o queijo parmesão, o proprietário João Levi Miguel, que em 2016 ganhou o título de personalidade do ano na gastronomia, destaca que, apesar do queijo parmesão uruguaio ser o mais vendido, o nacional de marca Faixa Azul é o melhor, porém o mais caro. 


O queijo de fabricação própria do Empório Cruzília, que inicialmente teve o nome de Bolo Azul de Minas e atualmente é chamado de Santo Casamenteiro, foi eleito, em 2017, o melhor queijo em um concurso mundial na França. Ele tem na composição nozes e damasco e é o responsável por 35% das vendas desse box. “O produto da moda no momento é o queijo mussarela Burrata, que tem recheio cremoso de leite de búfala”, diz o gerente de vendas Leonardo Luciano de Marco. Confirmando o pecado da gula dos queijos e embutidos, Jaime Gomtow, de 80 anos de idade e cliente fiel deste empório, diz que os sabores do Mercadão remetem à sua infância, pois frequenta o mercado desde pequeno, quando era trazido por seu pai. 

Texto de Gerson Rebello e Hidely Nascimento 

OS ÍCONES DO SABOR DO MERCADÃO

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De tão famosos, não há como falar de Mercadão sem mencioná-los: o recheadíssimo pastel de bacalhau e o generoso sanduíche de mortadela. O primeiro tem origem controversa, até mesmo dentro do restaurante Hocca, apontado como o local criador da iguaria.

Enquanto o colaborador Edilson Teixeira, na empresa há 36 anos, conta que o sabor nasceu de uma “teimosia” dos empregados que já faziam pastéis de carne e queijo e sugeriram um recheado com bacalhau, Horácio Ferreira Gabriel, um dos sucessores da empresa, afirma que a origem foram os bolinhos, feitos por sua mãe como lanche para o marido, que deram origem ao quitute. 

No caso do sanduíche de mortadela, a história não é tão controversa. Os dois afirmam que o recheio reforçado se originou de pedidos dos trabalhadores do próprio mercado, que, por realizarem trabalho braçal e só realizarem uma refeição diária, pediam o lanche “no capricho”. A fama desta gastronomia já atravessou fronteiras. Hoje, o Restaurante Hocca, além de quatro pontos de venda no Mercadão, está presente em shoppings de Campinas, São Bernardo do Campo, Mooca, Moema, todos no estado de São Paulo, e já se prepara para inaugurar uma unidade em Orlando, na Flórida. 

Texto de Célia Fevereiro Grisolia e Celso Luiz de Oliveira

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Um brinde à nossa saúde

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Passeando pelos boxes especializados em bebidas do Mercadão, como a Banca do Ramon e o Empório Santa Terezinha, é possível encontrar uma variedade de bebidas, tais como cafés gourmet, vinhos, cervejas, e muitos destilados, para atender à diversidade de seu público consumidor. A demanda pelas bebidas vem de outros estados do Brasil e de turistas, que querem experimentar as cachaças.

Estas já não são mais aquelas tradicionais do passado: ganharam muitos rótulos processos diferenciados de produção. Na Banca do Ramon encontram-se algumas bebidas que são verdadeiras pérolas, com histórias de produção que se destacam.

Um exemplo é um conhaque de origem francesa, de nome Louis XIII, que levou 50 anos para ficar pronto. Ricamente embalado em garrafa de cristal baccarat, tem seu preço em torno de 31 mil reais. Um dos vinhos tem uma história de 14 anos para ficar pronto, chegando seu valor a 50 mil reais, e tem na Europa o solo perfeito para sua produção. Encontra-se ali também uma vodka canadense embalada em uma garrafa em formato de caveira. É muito interessante o conhecimento demonstrado pelos profissionais que ali trabalham, como Kel, que acompanhou pessoalmente a produção de várias marcas à venda na loja, principalmente na Europa, reforçando a importância do solo daquela região para a qualidade das bebidas. 

Já no Empório Santa Terezinha a presença das cachaças e das cervejas é bastante forte. O destaque é a multiplicidade de rótulos de cervejas artesanais, muitas delas brasileiras. Produto em franco crescimento nos últimos cinco anos, as cervejas artesanais levam ingredientes diversificados nas suas fórmulas, incluindo especiarias e frutas, para harmonizar com alimentos e serem degustadas do inverno ao verão. Os mais tradicionais encontram as puras cervejas originais, com a clássica composição água, malte, levedura e lúpulo. Segundo o sommelier Silvio Molina Júnior, o lúpulo é responsável por conservar a cerveja e tem propriedades antissépticas. Por essa razão, conta Molina, seu uso foi disseminado na Idade Média, quando não se tinha água potável, para prevenir infecções e a transmissão de doenças. Literalmente, se podia brindar à saúde. Vale passar por lá e degustar com um queijo, apreciando seus belos e valiosos vitrais. Tim-tim! 

Texto de Cida Bertollo e Maria da Conceição Faustino

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Um engenheiro mecânico no dia a dia do Mercadão

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Leonardo Chiappetta, de 65 anos, bem que tentou enveredar por um outro caminho, mas a tradição familiar falou mais alto, levando-o a ser o representante da terceira geração da família a estar à frente do Empório Chiappetta, presente no Mercadão desde 1933, fundado por Carlos Chiappetta.

Neto do fundador, Chiappetta começou a trabalhar com o avô aos 7 anos. Seu avô, por volta dos 60 anos de idade, resolveu deixar o comando

do Empório para os filhos. O tempo foi passando e ele decidiu cursar Engenharia Mecânica. Na época em que estudava, trabalhava no mercado durante o dia e frequentava a faculdade à noite. “Depois de formado, exerci por pouco tempo minha formação e logo retornei às atividades do Empório”, diz.

Hoje toda a família contribui com seu trabalho: esposa, irmãos, sobrinhos e filhos. Ele é torcedor do Palmeiras e tem como hobby jogar tênis de mesa e fotografia. Faria a mesma coisa novamente e não pensa em aposentadoria: “Espero a vida decidir”, diz.

Quando perguntado sobre pessoas famosas ou de destaque que já passaram por seu comércio, Chiappetta prefere não destacar ninguém, apesar de já ter atendido muitos. Para ele, importantes são seus clientes do dia a dia. 

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Ele conta que o rei da Noruega esteve no Empório como uma homenagem desse país pelo trabalho realizado por ele para acolher e incentivar culturas de raiz e agricultura familiar: após uma enchente em Alagoas, Chiappeta apoiou a formação de uma cooperativa que, por meio do plantio de laranja, faz um produto diferenciado, o doce de casca de laranja desidratada/cristalizada. A iguaria é vendida e servida no Café (um nicho ao lado do Empório), onde é possível degustar o Frozen Chiappetta ao Balsâmico, um gelado com ingredientes exóticos, muito saboroso e uma exclusividade do local. 

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Texto de Lygia Benvenuti e Mena Aboud 

O MERCADÃO DOS IMIGRANTES

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O Mercado Municipal Paulistano é marcado pela presença de imigrantes que continuam com seus boxes até hoje, ainda presentes ou por meio de seus descendentes. O mais tradicional, o Hocca Bar, no Mercadão desde 1952, tem origem portuguesa. À frente do negócio está a segunda geração, representada por Angelo e Horácio Gabriel. Este, além de outras funções na administração, é o chef de cozinha; Angelo cuida da expansão dos negócios com a criação de novas unidades e da manutenção dos restaurantes. 

Horácio Gabriel conta a origem do negócio e revela o porquê do nome Hocca. Fundado pelo português Horácio, seu pai, com um sócio, no início o espaço se chamava Lanchonete São Jorge. Com o fim da sociedade em 1952, Horácio mudou o nome. Como gostava do conceito das ocas dos índios como uma casa para receber pessoas, acrescentou o H da inicial de seu nome e rebatizou o box, que com o passar do anos ganhou fama por servir pastel de bacalhau e sanduíche de mortadela. 

Os irmãos contam que ainda crianças iam para o Mercadão com seu pai onde brincavam com os filhos de outros comerciantes; já na idade escolar, estudavam pela manhã e trabalhavam à tarde com seu pai, desenvolvendo o amor pelo negócio e o desejo de manter a família no negócio. Horácio segue a tradição e leva seu filho pequeno ao Mercadão. “Espero que ele tenha, no futuro, a mesma paixão que nós temos pelo Hocca”. Para ele, o desafio é conciliar tradição com inovação. “Precisamos manter a tradição humanista ao mesmo tempo em que implantamos as novas tecnologias para o negócio”. 

A Espanha é a terra natal de Francisco de Assis, há 60 anos no Brasil, 23 comercializando somente produtos espanhóis no Mercadão.  

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Sua maior clientela é a comunidade espanhola e chefs de restaurante. O produto mais vendido é o jamón, cujo preço por quilo varia entre R$ 90,00 e R$ 550,00, dependendo da raça e da qualidade do animal de origem. O mais caro vem de animais tratados com “belota” um tipo de castanha – o chamado porco ibérico. Em seu box, Assis comercializa vinhos e outras iguarias espanholas. Ele conta apenas com a ajuda da esposa e não tem descendentes. Observa uma grande mudança de consumidores no mercado, comentando que antes vinham mais famílias, imigrantes e hoje mais turistas e alguns chefs de restaurantes. 

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Por seu lado, Vataru Ito, proprietário da Peixaria Takeda, é de origem japonesa. Há 37 anos no mercado, relata que desenvolveu o negócio por uma necessidade de sobrevivência. A procedência de seus produtos é todo o litoral brasileiro; enquanto o salmão, que vem do Chile, é o produto mais vendido. Vende bem também o Robalo ao preço de R$ 160,00 Kg. 

Seus consumidores principais são donos de restaurantes. Ito orgulha-se do seu cuidado na conservação de seus pescados, com o uso de câmara frigorífica mantida a 25 graus negativos, além de geladeira e gelo. “Peixe não é um negócio de leilão”, alerta, recomendando evitar o consumo de peixes com preços promocionais, pois o pescado é um produto que tem que ter uma boa procedência e armazenamento, o que gera maior custo.

Ele nota uma diminuição do número de consumidores no Mercadão e credita este fato à proliferação das feiras-livres, supermercados e hortifrutis em quase todos os bairros da cidade. 

Texto de Matilde Balro e Sandra Rodrigues

UM NEGÓCIO DA CHINA

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No box Pescados Crescente, aberto em fevereiro deste ano, o idioma oficial é o chinês. O espaço é especializado em atender chineses que consomem peixes diferenciados e não comem peixe de água doce. Este público representa 95% dos clientes; os 5% restantes são restaurantes vietnamitas. 

O sócio Sidnei Vargas, 60 anos, ex-bancário, sempre se dedicou à pesca esportiva. Após a sua aposentadoria, foi convidado pelo seu cunhado para reabrir um box desativado.

Para isso, foi pesquisar a necessidade dos clientes e viu, no público de origem chinesa, um nicho de mercado a ser explorado. Com o passar dos meses, foi conquistando a confiança por meio de amizades com os chineses, ganhando assim aumento constante de clientes. 

Para se comunicar com o seu público, Vargas faz uso do tradutor do Google e de linguagem gestual, já que a maioria da clientela não fala português. Ele mantém no balcão um cartaz escrito em chinês: “Por favor, coloque a luva”, devido ao hábito dos consumidores em manusear os produtos sem nenhum tipo de proteção. 


O hábito de compra dos chineses se difere por comprar por unidade, consumir somente se estiver fresco, além da preferência por peixes coloridos e amarelados. No Pescados Crescente, os peixes vêm de várias regiões do Brasil e nunca são congelados. A variedade de peixes vai de trombeta espada, anchova, caramujo, carapeba, enguia e oveva.  

A sobra de produtos é oferecida aos clientes sob a forma de promoções, garantindo assim que sempre tenha produtos frescos.

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Texto de Bernadete Siqueira e Talita Wolkoff 

VOCÊ SABIA?

O Mercadão não dispõe da rede de abastecimento de água da SABESP. A água chega por caminhões pipa, que fazem 10 viagens por dia.

Uma mulher de fibra no Mercadão 

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O box fundado em 1959 por Giacomo Geraldi e sua esposa Adelaide Geraldi hoje é dirigido por Nancy Geraldi, 71 anos, filha do casal de fundadores. Ela trabalha no Mercadão desde quando tinha apenas 12 anos de idade, ajudando seus pais desde a inauguração do espaço. 

Vende massas em geral, antepastos, molhos caseiros, doces italianos e muitos itens de secos e molhados. O negócio é herança de família e ela gosta muito do que faz. Está aposentada desde 1999 e não pensa em parar de trabalhar. É solteira, sem filhos. Não tem hobby e, em suas horas de folga, cuida de um cãozinho. 

Pensa sobre o futuro do seu comércio. Os herdeiros, seus sobrinhos, não trabalham com ela e fica a dúvida se o negócio permanecerá em família. Durante a semana conta com a ajuda de dois funcionários e, nos finais de semana, com quatro. Sente-se realizada, tem uma clientela antiga e fiel. 

Texto de Lygia Benvenuti e Mena Aboud 

PARA TEMPERAR A VIDA

As lojas especializadas em temperos, estabelecidas há mais de 50 anos no Mercadão, oferecem mais de 300 tipos de especiarias, desde as mais conhecidas como orégano, pimenta do reino, açafrão até a chamada fumaça líquida.

As ervas e especiarias podem fazer muito mais do que dar sabor aos alimentos, promovem a saúde e bem estar, algumas, inclusive, contribuindo para inibição de doenças degenerativas. “A procura por esses temperos se dá mais pelo sabor do que pelo valor medicinal”, informa Robson de Souza, 53 anos, gerente da Loja Santa Terezinha. A exceção fica por conta do alho negro, que além de ser um ótimo aromatizante de azeites, ajuda na diminuição do colesterol e na regulação da pressão arterial.

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A maioria dos temperos é importada da Índia, África, América Central, entre outros. Dentre os produtos nacionais destaca-se a pimenta rosa, nativa de São Paulo e utilizada em diversos pratos. O sabor adocicado e perfumado não esconde o gosto de outros alimentos. 

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Frequentadas por donas de casa, nutricionistas, estudantes de gastronomia e chefs de cozinha, as lojas de temperos atraem pela variedade de produtos. Os estrangeiros se encantam com os sabores, como o turista Jason, formado em gastronomia na Inglaterra, que ficou impressionado com a diversidade de produtos e o que mais gostou foi o limão em pó com pimenta. 

Texto de Neiva Varone, Regina Silveira e Vera Almeida 

Sustentabilidade no Mercadão: reciclagem de materiais e de vida

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Todos os dias, Washington chega ao Mercadão nas primeiras horas da manhã para trabalhar, mas, diferentemente dos profissionais que atuam nos boxes, bares e restaurantes que atraem multidões, se dirige a uma área pouco visível do imponente prédio para a tarefa de dar destino de reciclagem a toneladas de resíduos sólidos ali produzidos. 

Membro de uma equipe de 10 pessoas, Washington opera a máquina de prensar e enfardar papelão e se considera um microempreendedor. Sua história é de superação. Aos 53 anos de idade, depois de 30 anos de vida nas ruas, envolvimento com drogas e passagens

pela polícia, a necessidade de mudar falou mais forte. “Perdi totalmente minha identidade, nem sabia mais meu nome, quem eu era”, conta, em meio a uma montanha de caixas de papelão. 

Após ser acolhido pela operação Atenção Urbana da Prefeitura de São Paulo e ser internado em clínica de recuperação por 9 meses, “saiu limpo”. Foi quando, enquanto resistia às tentações das ruas, soube e aceitou a oportunidade de trabalho oferecida pela ONG Clube de Mães, entidade sem fins lucrativos que se dedica a ajudar pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social e, no caso do Mercadão, responsável por gerir as atividades de reciclagem. 


“Ao longo desses 6 anos de atividade aqui no Mercadão, tenho uma renda, recuperei minha dignidade e minha autoestima”, diz Washington, exemplo vivo do lema do Clube de Mães: “transformando mãos que pedem em mãos que fazem”. 

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Texto de Elisa Mirian Katz e Eduardo Castro Abreu